quinta-feira, 30 de agosto de 2007

Da série "O mundo é uma bola" crônicas, futebol & humor




A bola
Luis Fernando Veríssimo


O pai deu uma bola de presente ao filho. Lembrando o prazer que sentira ao ganhar a sua primeira bola do pai. Um número 5 sem tento oficial de couro. Agora não era mais de couro, era de plástico. Mas era uma bola. O garoto agradeceu, desembrulhou a bola e disse "Legal!". Ou o que os garotos dizem hoje em dia quando gos­tam do presente ou não querem magoar o velho. Depois começou a girar a bola, à procura de alguma coisa.


- Como é que liga? - perguntou.
- Como, como é que liga? Não se liga.
O garoto procurou dentro do papel de embrulho. - Não tem manual de instrução?
O pai começou a desanimar e a pensar que os tempos
são outros. Que os tempos são decididamente outros. - Não precisa manual de instrução.
- O que é que ela faz?
- Ela não faz nada. Você é que faz coisas com ela.
- O quê?


- Controla, chuta ...
- Ah, então é uma bola.
- Claro que é uma bola.
- Uma bola, bola. Uma bola mesmo.
- Você pensou que fosse o quê?
- Nada, não.




O garoto agradeceu, disse "Legal", de novo, e dali a pouco o pai o encontrou na frente da tevê, com a bola no­va do lado, manejando os controles de um videogame. Al­go chamado Monster Ball, em que times de monstrinhos disputavam a posse de uma bola em forma de blip eletrô­nico na tela ao mesmo tempo que tentavam se destruir mu­tuamente. O garoto era bom no jogo. Tinha coordenação e raciocínio rápido. Estava ganhando da máquina.
Referência Bibliográfica.: O mundo é uma bola : crônicas, futebol & humor / Armando Nogueira... [et al.] ; ilustrações Alcy. - São Paulo : Ática, 2007 104p. : il. - (Quero ler : 15)

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